sexta-feira, setembro 16

Capitulo 1 - 1ª Parte - EdF

Alicia

A saudade estava. Não iria desaparecer. Tinha sido a minha vida. A vida que vivera tantos anos seguidos. Sentia-me longe. Como se este não fosse o meu caminho. Uma grande mudança para um enorme estrago. Era a única coisa que conseguia sentir. Fora pior do que o chefe da polícia chegar a casa e dar a notícia. A pior noticia que alguém pode dar. Um pai desaparecido no meio de nada e com a probabilidade de viver de 1%. Como as injustiças existiam. Levar da família, um homem bondoso, sensato e culto, de rosto esguio, nariz recto, lábios finos e sempre com um sorriso encantador, olhos brilhantes num azul mar, que enchiam de orgulho e coragem corações inocentes, e as suas rugas. Pequenas rugas que demonstravam o seu ardo-o trabalho. O trabalho que lhe custara a vida. Subir montanhas, e estudá-las. Era o que ele gostava.

Agora, aqui estava eu. Sem nada. Apenas com a minha mãe, e as memórias que restavam da antiga vida. Savannah era a minha nova casa. Uma casa simples, de paredes brancas, um enorme jardim, e harmoniosa em todos os sentidos. Sem vizinhos colados a ti, e uma escola quase a cinco paços de casa.



- Alicia, fiz-te a mala. Estás a ficar atrasada. Veste algo e desce. – avisou ela. – E não estou a brincar. Se não desceres vou te buscar por uma orelha.

Suspirei derrotada, e agarrei na pouca roupa que sobrava no armário, ao canto do quarto. Calções curtos de ganga escura, um top laranja, uma blusa de alças cavas transparente em tons de bege, e os All Star pretos que a minha mãe me oferecera, e vesti-me. Fechei as portas do armário sem pressas, penteei o cabelo, lavei o rosto, esfreguei os dentes e estava pronta.

Com um suspiro, deixei o local onde dormia e desci as escadas. Eu iria mesmo para aquele Campo de Férias. Não havia como escapar.

- Já estou. – disse ao chegar ao último degrau.

Thomas

- Tom, levanta o teu grande traseiro de sono, dessa cama. O meu tio vai-nos matar se chegarmos tarde ao primeiro dia do campo. – reclamou Will.

- Cala a boca. – refilei.

- Será que vocês não podiam dormir mais vestidos? – perguntou uma voz feminina vinda da porta.

- Deb, já me viste com menos roupa a menos. – murmurei. Ouvi quase o coração de Will parar de bater, e Deb rir-se da cara dele. Era tão óbvio que eu e Deb nunca tivéramos nada. A nossa relação é já familiar. Somos como irmãos.

- Nem quero saber. – avisou Will. William Daniel Hatcher, é o rapaz de mais festas que já conheci. William é super divertido, conhece-o desde sempre. A sua irmã Deborah Wilona Daniel Hatcher é a minha melhor amiga, tem diferença apenas de um ano de William, mas consegue ter uma mentalidade muitíssimo mais madura. Deb ama o irmão com todo o coração, à maneira dela, já que estão sempre a discutir, mas Will faz algo que esta odeia: anda com todas as raparigas. Não no sentido de ser um mulherengo como o habitual, mas beija uma numa festa, e depois beija outra cinco segundos depois… É o Will.

- Até parece que poderias dar lições de moral. – espicaçou Deb. Ia começar.

- Pelo menos eu já beijei.

- Quem te disse que eu nunca beijei?

- E quem me garante que beijas-te? – continuou Will.

- O Tom.

- Não me metam nisso. – avisei.

- Nem o Tom te ajuda Deb. – riu-se Will.

- É verdade Will, a Deb já beijou. E eu sei porque ela já me beijou. – disse-lhe com a cara debaixo da almofada, podia ser que se matassem um ao outro e me deixariam dormir.

- Vou fingir que não ouvi. – Will estava irritado. Ouvi os paços ferozes dele a sair do meu quarto e a bater com a porta. Levantei a cabeça da almofada e vi Deb a rir á gargalhada.

- Bom trabalho. – murmurou ela. E eu pisquei-lhe o olho. – Temos mesmo que ir. Veste uma das tuas t-shirts badalhocas que vivem no chão do teu quarto, umas calças e mexe-te.

- Ok mandona. Até já. – disse levantando-me da cama e seguindo até à casa de banho. Deb saiu do meu quarto, e vesti-me à pressa. A típica roupa que se usava por Savannah: t-shirt, calções de banho compridos, e os meus queridos All Star. Uma pequena paranóica que Deb me passara. Sai do quarto, com a mala de roupa na mão e vi os dois a discutirem no sofá.

- Vocês nunca se calam? – perguntei.

- Não. – responderam os dois. Revirei os olhos. – O vosso tio? – e logo em seguida ouviu-se a campainha soar.

- É ele. – confirmou Will, indo abrir a porta.

- E assim o Verão finalmente começa. – murmurei para mim.

Mildred

Era a quarta vez consecutiva que abria a mala de férias. Nunca antes estivera tão ansiosa. Já a desfizera e fizera vezes sem conta. Era o primeiro ano que vinha passar férias a Savannah. Não que a tia não fosse uma óptima ouvinte e boa pessoa mas sentia saudades dos meus pais, que foram trabalhar para a capital dos EUA.

Ao Joan, o meu único e irmão mais velho, ficar noivo há um mês, a tia achou melhor colocar-me num campo de férias. Não estava com disposição para isso. Queria as minhas amigas. As amigas que se encontravam a quilómetros de distância.

Iria ser um Verão muitíssimo longo. Tinha certeza disso.

Fechei a mala uma última vez e puxei-a para fora do quarto. Joan sorriu para mim saindo do seu quarto de mãos dadas com Sam, a sua noiva, e veio até mim pegar na mala.

- Só uma mala? – perguntou Joan.

- Pensei que irias lá estar o Verão inteiro. – disse Sam agarrando na minha mochila pequena.

- E vou. Mas não tenho em Savannah muitas coisas… Deixei quase tudo em casa. – relembrei-os.

- Nós vamos a casa daqui a algum tempo. Deixámos os convites de casamento lá. – disse Joan seguindo até às escadas apertadas.

- Posso te trazer alguma roupa. – disse Sam.

- Seria-te muito grata por isso. – respondi com um enorme sorriso. Sam riu-se e descemos as duas as escadas.

- Estava a ver que não. – disse a tia Judith vinda da cozinha com o avental colocado. – Temos que ir. O campo ainda fica a algumas horas daqui.

- Tia, é apenas uma hora. – reclamou Joan. Sam revirou os olhos e abriu a porta da frente.

- Uma hora, uma hora. – refilou a tia Ju. – Vamos, vá, vá. – disse ela agarrando no casaco e mala.

- Tia. – chamei-a. Ela olhou-me com um olhar nervoso e irritado. – Estás de avental. – Tirou o avental e colocou-o com violência em cima do sofá. Assim saímos quase a correr. Tia de mau humor, é a tia que ninguém quer.

Christopher

Que ano passara… Nem me conseguira sentar a ver televisão. Savannah para muitos é um local de férias, para mim é um local de trabalho. Ou era. Para eu poder descansar umas férias de verdade, os meus pais inscreveram-me num campo de férias perto das novas praias. Já está tudo pronto há semanas. A mãe já a fizera mal soubesse que eu entrara no campo.

Coisas aconteceram neste ano lectivo. Coisas que me cansaram. Estava na altura de umas verdadeiras férias.
Thomas

- Mas será que tu não sabes ter apenas uma de cada vez? – perguntou Deb quase aos gritos.

- Claro que sei. Só tenho uma boca para cada uma, de cada vez. – respondeu a rir-se Will.

Estávamos prestes a chegar ao campo de férias. O Randall, tio destas duas crianças com corpo de adolescentes, vinha a meu lado a conduzir a refilar, atrás Deb e Will tinham vindo o tempo todo a gritar um com o outro em grandes discussões. E agora estávamos a meio de uma.

- Deixa de ser… vadio. – disse ela com repugnância.

- Mas qual é o teu problema agora?

- O meu problema é que magoas todas. Fazes elas apaixonarem-se por ti. – afirmou Deb.

- Tom ajudinha. – pediu ele.

- Não me meto entre irmãos. – avisei.

- Acho que o ditado está errado. Não é: “Entre marido e mulher não se mete colher”, acho que é mais “Entre irmãos não metam nem as mãos”. – disse o Randall a rir-se. Juntei-me a ele, e Deb e Will bufaram irritados.

- Falta muito para chegar? Vou ficar com a cabeça feita em água. – refilou Deb.

- Se é que já não a tens… - refilou por entre dentes Will.

- O que disseste? – voltou a gritar Deb.

- Chegámos! – berrou Randall antes que uma nova discussão pudesse começar. – Na viagem para casa, no final do Verão, vão d autocarro. Eu pago as passagens. Parecem duas crianças.

Os dois bufaram e saíram do carro. Saí em seguida e vi como tudo era. Havia verde em todos os locais pequenos trilhos eram feitos de pó e pedras pequenas, havia várias casas de madeira espalhadas nos relvados, mais ao fundo, árvores faziam uma enorme sombra onde rapazes jogavam agora futebol, e uma casa um pouco maior no lado esquerdo mais ao fundo onde havia uma enorme tableta escrita “Administração/Recepção”.

- Isto é incrível. – disse Deb.

- Concordo. – afirmei eu.

- Vão à aquela casa com a tableta – disse Randall apontando para a enorme casa de madeira do lado esquerdo. – dar o vosso nome para saberem que vocês estão presentes. Vou ver como está tudo e em seguida vamos ao primeiro comunicado do Campo. – disse excitado.

- Até já. – disse-mos os três em uníssono.

- Vamos então àquela casa, agora!

Já muita gente estava instalada. Seguimos o trilho mais largo até à casa de madeira e subimos as pequenas escadas. Havia várias pessoas numa fila. Colocámo-nos na fila enquanto olhava-mos abismados para todos os pontos e esquinas que a casa poderia ter.

- Desculpem é aqui a fila para dar o nome? – perguntou um rapaz de cabelo aloirado, penteado para o lado direito, ao estilo dos surfistas. Deborah virou-se ainda a resmungar com Will e calou-se logo assim que viu o rapaz.

- É. – disse. O rapaz sorriu e colocou-se atrás de nós.

- Matthew Keveson Clist Marks, prazer. Mas podem-me chamar apenas de Matt. – disse Matt, apresentando-se amigavelmente.

- Thomas Alfred Galloway, prazer. – disse-lhe estendendo a minha mão. – Estes são Deborah Wilona – vi Deb ficar furiosa por eu ter dito o seu segundo nome, e ri-me. – e William Daniel Hatcher, os irmãos mais irritantes que podes conhecer. Matt riu-se e Deb deu-me uma cotovelada no estômago.

- Podes-me tratar por Deb, Matt. – disse ela com um enorme sorriso e os olhos a brilhar. Perigo! A menina Deborah W. D. Hatcher está a namoriscar!

- Tens alguma irmã? – perguntou o Will. Deb bateu-lhe na cabeça e eu ri-me mais alto.

- Não. Sou filho único.

- Isso é bom. Vamos ser grandes amigos. – disse Will puxando Matt para si, colocando um dos seus braços em cima dos  ombros de Matt, demonstrando companheirismo.

- Como vieste parar aqui? – perguntou a bisbilhoteira da Deb.

- Foi a minha avó que me colocou aqui. – resmungou.

- Pois nós escolhemos vir. Aviso-te já que os verões em Savannah costumam ser muito parados. – disse-lhe.

- Próximo! – ouviu-se uma voz. A fila movimentou-se e dividiu-se em três graças às novas empregadas que vieram fazer o trabalho da que cá estava. Deborah correu até à segunda fila ficando em primeiro. – Nome por favor.

- Deborah Hatcher, William Hatcher, Thomas Galloway e Matthew Marks. – disse ela em grande rapidez.

- Obrigada, e dirijam-se à cantina para ouvirem o comunicado que será feito dentro de instantes. – disse a mulher sem levantar os olhos dos papeis.

Saímos, juntos, da casa e caminhámos até à cantina.

- E que mais contas? – perguntou Deb.

- Gosto de música. Na realidade amo a minha viola. – disse ela mostrando o saco preto que trazia nas mãos.

- Fantástico! O Tom também toca. Já o Will não faz mais nada se não olhar as paisagens. – reclamou a minha melhor amiga.

- E que paisagens… - murmurou Will.

Entrámos na cantina e sentámo-nos nos bancos de madeira compridos. Randall entrou logo em seguida na sala com um megafone nas mãos. O silêncio foi geral.

- Bom-dia a todos, chamo-me Randall e sou o rei deste campo. – disse ele com um ar majestoso. – Continuando… Já todos estão com o nome registado e tenho a informar que estão todos os membros. Por isso acho que todos merecem uma salva de palmas. – e todos começámos a bater palmas. – E agora vamos ao que todos querem saber. Os dormitórios vão ser para quatro pessoas e para não haver confusões eu próprio fiz as separações.

- Agora já não ficamos a atorar-nos. – disse a Will. E estes riu-se.

- Ah! Espero que já tenham compreendido que vão ser divididos em rapazes e raparigas. Nada de misturas. – assinalou. Todos – rapazes – nos lamentámos e ri-mos em seguida. – Como no primeiro ano optámos por apenas ter 40 membros, irão haver 10 grupos a ocupar casa, entre eles 5 são raparigas e os outros 5 rapazes. E o primeiro grupo masculino é: Daniel Lemon, Aiden Mitchel, Mark Stanley e Quil Etera. A vossa casa é a número 1, podem ir já para lá. Não se esqueçam que é o número azul e não rosa. – avisou e todos caíram na gargalhada. – O segundo grupo pertence a: William Hatcher, Thomas Galloway, Matthew Marks e Christopher Milenson. – disse ele. – Casa com o número 2 a azul.

Deborah

A sorte que estes rapazes têm. Conseguiram ficar todos juntos. Já deviam estar na conversa dentro da cabana há imenso tempo e eu aqui à espera que os grupos femininos começassem. O último grupo masculino saiu e o meu olhar voou para o tio.

- E assim começamos agora os grupos femininos. O primeiro grupo é constitúido por: Mildred Snow, Alicia Don, Deborah Hatcher e Jenna Handort. Podem ir. – avisou. Levantei-me agarrei nas minhas malas e saí da cantina seguida por duas raparigas.

Saímos da cantina e o silêncio do fim da tarde absorveu-me por completo. Apenas se ouvia o barulho dos mosquitos, a pequena brisa que agora pairava e o andar que os nossos pés transmitiam.

- Estou farta deste silêncio. – disse a rapariga de cabelos ocmpridos castanhos claros, quase aloirado. Os seus olhos eram azulados e todo o seu rosto parecia feliz e extrovertido. Uma rapariga como não se encontram muitas. – O meu nome é Mildred Jane Snow.

- Deborah Wilona Daniel Hatcher, mas trata-me por Deb, e por favor não digas o meu segundo nome. – quase lhe implorei.
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Espero que tenham gostado. Mais em breve.

Comentem!! Kisses :P

1 comentário:

  1. Gosto muito a historia! Já te sigo, gostava que tbm me seguisses e desses a tua opiniao, obrigada!

    P.S: quando publicas mais?

    Beijinhos fica bem

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